É próprio do ser humano procurar seus semelhantes. E é próprio do ser humano se entristecer quando percebe que não há tantos semelhantes assim. Se sentir um ET, procurar contato e não encontrar é bem desgastante emocionalmente. Mas é próprio do ser humano se alegrar ao encontrar alguns que sentem igual e que vivem situações parecidas. Deus nos criou com uma necessidade vital de nos sociabilizarmos, e é essa necessidade que nos faz procurar uns pelos outros. Chamo a interação com os que são mais iguais do que diferentes de compartilhamento, e a interação com os que são mais diferentes do que iguais de troca. Tanto o compartilhar quanto o trocar são essenciais para a vivência humana. Mas pelo fato de o contato com o diferente ainda ser o mais desafiador, apesar de ser o mais enriquecedor a meu ver, é que procuramos com mais frequência os que nos são semelhantes. E o compartilhamento das mazelas me parece ser mais almejado que o compartilhamento das bênçãos. Acho que a essência humana explica. Nossa natureza fragilizada, necessitada e carente de atenção, nos empurra muito mais no sentido de procurar a princípio quem entenda nossas fraquezas, do que no sentido de procurar quem compartilhe de nossas bem-aventuranças em primeiro lugar. Mas eu sinto que quando a derrota do outro é semelhante a nossa, a alegria pela vitória deste é como se fosse a alegria pela nossa própria vitória. É a empatia da desventura seguida da empatia da bonança.
Quando a graça é derramada na vida do outro, a esperança de que a nossa desgraça se desfaça também se torna mais tangível. Muitas vezes temos vergonha de compartilhar algumas dores por acharmos que ninguém vai entender. E realmente os que são mais diferentes do que iguais não vão entender direito nossos males. Mas quando alguém que é mais igual do que diferente dá o primeiro passo e expõe suas dores, é comum os demais perderem o constrangimento e começarem a expor suas dores também. Compartilhar da dor de alguém nos deixa alegres quando a cura ou a melhora se fazem na vida dessa pessoa. Só tenho a agradecer a Deus, pois poder compartilhar de derrotas e vitórias alheias tem me ajudado a sentir de maneira mais forte que há a possibilidade de vencer e que é vital o exercício da solidariedade. Pra mim é como aquela história de ter que colocar a minha dor no bolso pra dar atenção a dor do outro. Várias vezes eu notei que as pessoas só precisam de um pouco de atenção, de alguém que leia sua história ou que ouça, de alguém que se interesse pelo seu sofrimento e que peça notícias de vez em quando. O ser humano de modo geral é carente mas é egoísta, e talvez a carência e o egoísmo estejam de mãos dadas. Cada um só quer falar de si mas poucos dispensam um tempo maior a ouvir os outros. Isso vai adoecendo todo mundo junto. Eu me incluo no grupo dos que precisam ser ouvidos (mesmo não assumindo) e só tenho cada vez mais certeza de que um dos piores males do ser humano é esse: não ser ouvido. Deus sabe tanto disso que inventou a oração. E definitivamente, eu jamais conseguiria ser sem vergonha o suficiente para aceitar ou dar atenção se não fosse esse Deus Maravilhoso na minha vida. Que Ele me ajude a dar mais e precisar de menos.
Música: Lord of Lords (Hillsong/Brooke Fraser).
}ï{
Deixar mensagem para Lola Cancelar resposta