Imago

Mês: junho 2014

  • 8 ou 80

    A personalidade emocionalmente desregulada (borderline ou limítrofe) enquanto transtorno.

    “Uma ‘atrofia’ [disfunção] do lobo frontal que causa dificuldade em se conter ou se inibir, lidar com sentimentos ambíguos, ou lidar com sentimentos pouco habituais. Dificuldade em conter os sentimentos e atitudes primitivos que não se adequam à nossa sociedade ‘civilizada’.” (L. Dantas).

    Dependência emocional e medo praticamente patológico do abandono. O que leva a supressão da própria personalidade em detrimento da personalidade alheia, com o objetivo de não desagradar. Há também, pelo medo do abandono, atitudes tresloucadas e reações desmedidas na tentativa desesperada de não perder os entes amados. Sentimentos extremos (quando ama é pra morrer, quando odeia é pra matar).

    Sensibilidade à flor da pele; estrutura emocional desprotegida e sem filtro; baixa autoestima; explosões incontroláveis; memória sentimental curta (se lhe fazem algo bom, já ama mas se lhe fazem algo ruim, já odeia); certeza de que suas atitudes desequilibradas, destruidoras e inadequadas são necessárias e corretas; convicção de sempre estar com a razão (para o borderline só ele está certo, os outros sempre estão errados); reação negativa e ofendida ao ser confrontado com a realidade de seu desequilíbrio; pensamento fixo de  sempre estar sendo injustiçado, perseguido e incompreendido.

    Está quase sempre entre a neurose e a psicose, o que leva a um desesperado estado de sofrimento mental e emocional quase constante que pode acarretar doenças físicas (úlcera, gastrite, câncer, psoríase, vitiligo, esclerodermia, alopecia, fibromialgia, enxaqueca crônica etc). Quando transtornada, a personalidade limítrofe pode disparar também outras patologias mentais que já sejam tendência genética e que estejam latentes, como depressão, transtorno obsessivo compulsivo, transtorno bipolar, transtorno de ansiedade generalizada, transtorno do pânico e outros.

    Porém, assim como em algumas outras condições (como a bipolaridade por exemplo), a personalidade limítrofe – estando ou não transtornada – faz com que o portador tenha inteligência emocional e intra pessoal acima da média. Consegue assim, se colocar no lugar dos outros e partilhar de suas dores muito facilmente. Consegue também fazer análises e avaliações psicológicas e comportamentais de si e dos outros com grande naturalidade e proficiência. O portador deste tipo de personalidade é sensível e se doa a ponto de abrir mão de si e de seus interesses em benefício do próximo.

    Borderlines e bipolares são muito parecidos nas capacidades e também nos sofrimentos. Algumas pessoas são portadoras das duas condições. E parece que, pelo conjunto da obra, dão bons psicoterapeutas, artistas, conselheiros e excelentes profissionais em áreas que exijam grande criatividade. Diferentemente da Bipolaridade, Borderline não é só transtorno, é tipo de personalidade. Ao ser controlado o estado de patologia, permanecem os traços limítrofes. O bipolar, até onde se sabe, não fica curado. Já o borderline pode deixar de ser doente de si mesmo, mas nunca deixará de ser borderline. Sei que minha personalidade sempre foi assim intensa, minhas emoções e meu humor sempre foram de extremos. Também sou ‘8 ou 80’, e isso pode até me dar medo, mas graças a Deus o equilíbrio tem vindo como tempo, e isso me dá esperança.

    “Porque Deus não nos deu o espírito de temor, mas de fortaleza, e de amor, e de moderação.” II Timóteo 1:7

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  • Um dos meus objetivos com relação ao tratamento é ficar bem sem os psicofármacos ou com o mínimo possível deles. Os remédios são, como o nome diz, remediadores das circunstâncias e não a salvação completa da lavoura. Pra um remédio virar veneno não precisa muito esforço e, assim como os pesticidas matam as pragas mas podem contaminar o vegetal, a medicação alivia os sintomas mas pode trazer consequências negativas pro organismo também. Em casos como o meu os remédios são ajudantes que auxiliam no controle mas não significa que vão me curar obrigatoriamente.

    A medicina diz que não há cura e que eu vou precisar de medicamentos todos os dias pelo resto da vida pra me manter minimamente sã. Isto, pra mim, é como afirmar que um pomar jamais dará frutos totalmente saudáveis e precisará de agrotóxicos enquanto existir. Cada terra é uma terra, cada planta é uma planta e as pragas existem. Porém, é sabido que plantação de produtos orgânicos (sem pesticidas e que busque harmonia e equilíbrio do sistema) dá trabalho mas é possível, basta aprender a manejar e fazer sua parte. A natureza cuida do resto.

    Como o futuro só pertence ao Altíssimo eu vou buscando nEle força pra ir me cuidando e tomando meus ajudantes. E estes podem até me proteger dos bichinhos mas eu preciso fazer minha parte. Assim, os remédios continuarão tratando, ajudando, aliviando sintomas sem me envenenar, até que eu não precise mais deles. Quem sabe esse dia chegue! Meu Deus há de mandar boas chuvas pra que eu tenha boas safras, independente do tipo de manejo que eu tenha que aprender pra dar conta do meu pomar.

    “E junto ao rio, à sua margem, de um e de outro lado, nascerá toda a sorte de árvore que dá fruto para se comer; não cairá a sua folha, nem acabará o seu fruto; nos seus meses produzirá novos frutos, porque as suas águas saem do santuário; e o seu fruto servirá de comida e a sua folha de remédio.” Ezequiel 47:12

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  • A apreensão maior não acontece na hora do salto, acontece antes dele, ao olhar para baixo e ver a altura que supostamente se vai cair. Sentir a vida ameaçada causa essa emoção desagradável que é o medo, e é natural senti-lo pois o ser humano foi programado para pelejar pela vida. Mais uma razão para crer que um suicida é basicamente alguém em estado de desordem mental e/ou emocional, com a ‘programação’ comprometida. Em sã consciência não há pessoa no mundo que deseje morrer, pois isso entra em conflito com instinto de sobrevivência.

    No caso de um salto no pêndulo o tal frio na barriga se dá simplesmente pela altura e pela queda que prenunciam dano à integridade física. Porém ao perceber que se está seguro o medo dá lugar ao entusiasmo por estar brincando em um balanço gigante. E que gostoso quando percebe-se que não há mais risco de despencar! A vontade é ficar ali embalando para sempre, sentindo o vento refrescar o rosto, bagunçar o cabelo e sibilar no ouvido.

    Infelizmente há outros medos que não podem ser vencidos tão instantaneamente. Há o medo de confiar nos velhos amigos depois de sofrer um agravo por eles causado, o que traz consigo o medo de fazer novos amigos. Há o medo de se envolver em situações que exijam tomada de decisões que possam vir a gerar consequências dramáticas para si e para outros, o que ocasiona omissão ou cegueira para a verdade. Há o medo de amar novamente após sofrer feridas profundas causadas por mentira, engano, destruição de planos, traição etc.

    Medo é um mecanismo desenvolvido por nós com a finalidade de nos deixar alertas e nos preparar para luta ou para fuga. Ele vem quando as circunstâncias são incertas ou perigosas e sentimos necessidade de nos proteger de traumas e dores que possam surgir. Isso tudo é perfeitamente normal pois a natureza humana não é destemida. É frágil, limitada e, por isso, medrosa. Mas não quer dizer que não podemos ser corajosos. Aprendemos que a coragem e o medo são opostos, o que pode ser interpretado como afirmação de que em um não há nada do outro. Não concordo integralmente pois, como disse o amigo das cordas, coragem não é ausência de medo.

    Os corajosos também se apavoram e hesitam, mas vão em frente para executar aquilo que desejam ou precisam realizar. Um exemplo disto está na Bíblia, no livro de Deuteronômio, capítulo 31. Na ocasião Moisés, já velho e avisado por Deus que não atravessaria o rio Jordão, estava passando para Josué a tarefa de liderar Israel no restante da jornada. Com a responsabilidade de estar à frente de um povo numeroso, Josué deve sim ter se atemorizado. Porém as palavras de Moisés a ele foram reconfortantes:

    “O Senhor, pois, é aquele que vai adiante de ti; ele será contigo, não te deixará, nem te desamparará; não temas, nem te espantes.” Dt 31:8.

    Quando precisamos ou desejamos saltar, é bom demais termos a certeza de que estamos seguros por uma corda que aguenta milhares de quilos de tranco e pressão. Uma corda que não se desgasta e que depois do temor inicial nos proporciona muita satisfação, tranquilidade, alegria e plenitude. Deus é minha corda segura e minha certeza de que posso ser corajosa mesmo com meus medos. Ainda que alguns deles demorem para ser domados, a preparação para o salto sempre será um exercício de confiança muito produtivo.

    “Em qualquer tempo em que eu temer, confiarei em ti.” Salmos 56:3

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