Cansei! Vou modificar as coisas um pouco e tentar trocar a palavra “normal” por “usual” pois acho que soa melhor pra mim e pra todo mundo que sabe que o conceito de normalidade, no que diz respeito a sanidade mental, emocional e física, é sebosamente aplicado na maior parte do tempo. Definitivamente eu sou tão anormal quanto as mais de 6 bilhões de criaturas humanas do planeta (sendo que a maioria é só criatura mesmo). E devo registrar minha satisfação em saber que faço parte do seleto grupo que tem a felicidade de ter tomado consciência de sua anormalidade e imperfeição.
Enquanto isso muitas criaturas se acham normais e perfeitas. Tadinhas! Mas o meu problema é ainda pensar que de vez em quando eu posso ser mais “usual”. Ir trabalhar de manhã, lavar uns 200kg de roupa à tarde, ir deixar a irmãzinha em casa e, mesmo assim, aceitar um convite para um evento na cidade vizinha sabendo que ficaria tarde, que eu teria que tomar remédios, que teria privação de uma parte do meu sono, que o cansaço do corpo puxa o da mente e o da mente puxa o do corpo e por vai e vai e vai. Mas o problema não está no trabalho, não está na roupa suja, não está nos eventos, nos amigos que convidam ou nos que fazem companhia, nos horários etc.
O problema é ter um cérebro que trilha um caminho não usual para a interpretação das atividades corriqueiras. Para o meu cérebro o trabalho, a lavagem de roupa e a saída de moto pra deixar a irmã são um cansaço físico que leva à uma necessidade vital de descanso e fuga para um ambiente de tranquilidade. O não suprimento desta necessidade leva a um estresse mental, que por sua vez é agravado com o gasto das últimas reservas de energia durante a noite. Nesse caso, eu não deveria sair de casa. Deveria ficar em casa, tomar banho, colocar o pijama de ursinhos e, no máximo, ler um livro agradável ou ver um episódio de The Big Bang Theory .
Mas nããão! Eu ainda acho que meu cérebro é comum, usual. Então eu não descanso, o estresse físico se agrava a medida em que o sol vai se pondo, o que faz com que o estresse mental se avolume também. E esses dois estresses, sem terem mais nada o que fazer da vida além ferrar a minha, se unem com o único objetivo macabro de levar o meu emocional para o lado negro da força estressado deles. O corpo reclama às vezes com tontura ou moleza, a mente reclama às vezes com esquecimento ou falta de concentração, o emocional reclama às vezes com explosão de fúria, exagero nas reações, irritabilidade ou com choro sem razão. A noite de sono não é agradável nem reparadora nesse caso. O sono demora séculos pra chegar. Meu cérebro transborda de hormônios ruins ou some com um monte de hormônios bons, dá na mesma. E quando meu corpo se exauriu e as emoções desmaiaram é porque minha mente já está agonizando na UTI.
O resultado é mais um ataque na manhã seguinte, gritos, coisas voando, desejo de matar, quebrar tudo ou me quebrar toda, só porque decidiram fuçar meus sms no celular e mentir dizendo que não. Ou seja, uma coisa abominável boba como essa não faria um cérebro usual vomitar tanta impulsividade e uma atitude violenta e incontrolável, digna de vilã-doida-histérica-de-novela-mexicana. Na verdade é pior que isso. Uma vilã-doida-histérica-de-novela-mexicana ainda tem a compreensão dos outros personagens da novela quanto ao que está acontecendo com ela. Sorte dela que pelo menos compreensão tem.
Ela é odiosa e odiada, mas está enlouquecendo e todos entendem isso apesar de não quererem aprender a lidar ou conviver com ela. No final ela sempre fica sozinha, pois nem a família aguenta nem sabe lidar com a tal loucura. Mas pelo menos aparece alguém com solidariedade suficiente para interná-la em um hospital mental enquanto a mocinha e o mocinho da novela se casam. A antagonista da novela mexicana é tão anormal quanto a protagonista boazinha da história. A diferença é que o cérebro daquela foi deixando de ser usual de forma intensa e violenta, projetando nos outros tudo que não presta. Pensando nisso (e em outras coisas também) acho que preciso me aperfeiçoar na arte de me cuidar sozinha, pois eu odeio ficar presa, principalmente em hospital.
}ï{