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  • Lola preguiçando na rede. Foto by Lola.

    Bendita sejas tu, Preguiça amada,
    Que não consentes que eu me ocupe em nada!

    Mas queiras tu, Preguiça, ou tu não queiras,
    Hei de dizer, em versos, quatro asneiras.

    Não permuto por toda a humana ciência
    Esta minha honestíssima indolência.

    Lá está, na Bíblia, esta doutrina sã:
    -Não te importes com o dia de amanhã.

    Para mim, já é grande sacrifício
    Ter de engolir o bolo alimentício.

    Ó sábios, dai à luz um novo invento:
    A nutrição ser feita pelo vento!

    Todo trabalho humano, em que se encerra?
    Em, na paz, preparar a luta, a guerra!

    Dos tratados, e leis, e ordenações,
    Zomba a jurisprudência dos canhões!

    Juristas, que queimais vossas pestanas,
    Tudo que legislais dá em pantanas.

    Plantas a terra, lavrador? Trabalhas
    Para atiçar o fogo das batalhas!

    Cresce o teu filho? É belo? É forte? É loiro?
    – Mas uma rês votada ao matadouro!

    Pois, se assim é, se os homens são chacais,
    Se preferem a guerra à doce paz…

    Que arda, depressa , a colossal fogueira
    E morra assada, a humanidade inteira!

    Não seria melhor que toda gente,
    Em vez de trabalhar, fosse indolente?

    Não seria melhor viver à sorte,
    Se o fim de tudo é sempre o nada, a morte?

    Queres riquezas, glórias e poder?
    Para que, se amanhã tens de morrer?

    Qual mais feliz? O mísero sendeiro,
    Sob o chicote e as pragas do cocheiro…

    Ou seus antepassados que, selvagens,
    Viviam, livremente, nas pastagens?

    Do Trabalho por serem tão amigas,
    Não sei se são felizes as formigas!

    Talvez o sejam mais, vivendo em larvas,
    As preguiçosas, pálidas cigarras!

    (…)

    (Trecho do poema “Elogio da Preguiça” de Juvenal Antunes)

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