Imago

Tag: sobrevivência

  • Minha hipomania aparece de levinho aqui e acolá, durante eventos ou visitas, quando preciso interagir com outras pessoas, no trabalho, em reuniões de padeiros(as) etc. Mas quando eu passo da hora de dormir ou simplesmente esqueço de um remédio (como o lítio que serve para conter crises maníacas) a dita cuja vem bater mais forte na porta. Se eu não abrir ela mete o pé e vai entrando, passando por cima de mim e fazendo a festa. Me deixa ligada a noite toda sem conseguir dormir. Isso quando minha cabeça não desliga de vez lá pelas tantas da madrugada, me obrigando a cair desmaiada pra um lado da cama. Fico taquilálica em algumas ocasiões, ou seja, falando muito e muito rápido. Quando estou sozinha falo como se estivesse conversando com alguém que, evidentemente, não está ali. Mas diferente do esquizofrênico, eu sei disso. Fico exagerada e impulsiva em risadas, gestos, respostas e normalmente não meço palavras. É energia demais querendo sair.

    Quando isso acontece na frente de pessoas que não me conhecem ou não entendem minha condição (leia-se todo mundo que eu conheço) é uma vergonha, pois só vou me dar conta do que aconteceu quando adrenalina e Cia se aquietaram. Às vezes despejo zilhões de palavras praticamente ao mesmo tempo, tenho umas sacadas irônicas, ou falas sarcásticas que a maioria não consegue acompanhar. Isso assusta as pessoas e as faz achar que eu quero chamar atenção. Odeio ser o centro das atenções (tire pelo ódio de festinha surpresa e a vergonha de microfone que me faz perder a voz). Mas que pessoa extravagante assim não chamaria atenção? É um terror pra quem gosta de ficar quieta. A mania (mesmo a hipo) vem, dá sua festa, revira minha casa, me derruba, me faz passar vergonha, me chuta na cara e no estômago e vai embora. Daí vem a depressão, igual um lutador de MMA, e senta em cima de mim pra que eu não tenha chance de levantar pra arrumar a bagunça. Fico só arquejando no chão!

    Minha cabeça parece o parque de diversões do meu transtorno. Tem gangorra, montanha-russa, trem fantasma. Acho que isso define bem minha situação. É um sobe e desce, é uma reviravolta, é um desce e sobe, é náusea, é risada, é susto, é pavor, é risada de novo, é sensação de queda, é medo…É UM HORROR! E pra aliviar esse horror, eu preciso de remédios. Os remédios não curam, por isso tem esse nome. Só servem para re-me-di-ar a situação. A cura acontece em alguns casos, mas não no meu caso. Até hoje não se descobriu cura para bipolaridade. Some-se à bipolaridade vários sintomas do transtorno de personalidade limítrofe e temos um pequeno caos apocalíptico acontecendo dentro de uma cabeça só, fazendo uma só pessoa sofrer.

    E os remediadores da situação só servem pra eu não chorar por uma semana e por fim morrer desidratada, pra não me cortar ou furar, pra não sofrer de derrame por tanto bater a cabeça na parede, pra não quebrar os móveis do trabalho ou os de casa, pra não romper a prega vocal de tanto gritar, pra não sair arrebentando todo mundo no trânsito e ser detida pela polícia, pra não berrar para os colegas de sala calarem a boca, pra não levantar no meio do culto e dar umas porradas no pastor, pra não esfolar viva uma pessoa que me trate como menininha de 12 anos (Então, boniiiiitas!!); pra não estrangular alguém que diga “oi” com um sorrisinho de canto de boca parecendo uma Barbie, ou pra não escalpelar alguém que não faça nem isso. Trocando em miúdos, pra não me matar nem matar ninguém. Deus me ajude, mas até crianças bagunceiras me fazem respirar fundo pra não dar um chute.

    Enfim, os remédios servem pra eu conseguir sobreviver a mim mesma e deixar que os outros sobrevivam a mim. Alguém poderia até questionar o porquê de Deus não me libertar disso tudo, sendo que eu creio tanto nEle. Mas meu Deus já me curou e livrou da única coisa que remédio nenhum daria jeito: o inferno. Perto dele qualquer apocalipse mental não passa de uma cosquinha. E Deus dá propósito pra tudo nessa vida, até pra essa bagunça que eu sou. O meu propósito talvez seja ter a doença e conviver com ela, simplesmente. É, talvez o propósito seja só esse: continuar eu viva pra mostrar aos outros que é possível viver, sorrir e ser feliz mesmo no meio dessa zona de guerra.

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