Imago

Ao sair do casulo toda lola é imago.

  • Eu pensei que a primeira postagem deste perfil seria sobre minha aventura do ano passado no Maranhão e no Pará, sobre o TAF do processo seletivo no qual passei, mas não fui chamada, sobre minha formatura de Psicologia, sobre minha cirurgia de endometriose, sobre meu novo código da CID-11, sobre o déficit de atenção ou sobre psicoeducação. No entanto, a primeira postagem não é nem minha apresentação.

    É sobre os brincos dourados em formato de rosas que ganhei do meu tio há mais de 15 anos; é sobre o jaleco azul claro que precisei colocar no mesmo dia do funeral; é sobre os post-its amarelos nos quais escrevi o que precisava fazer no dia da chegada do corpo e de familiares espalhadas pelo país; é sobre meu coração, que tem um bolso estratégico.

    Esta postagem é sobre o luto, que há muito eu não vivia; é sobre a dor que precisei colocar no bolso para ir cuidar da dor dos outros. No bolso do meu coração cabe o lindo par de brincos que meu querido tio me deu, os quais usei todos os dias na semana de sua morte, mas que agora tenho medo de perder. No bolso do meu coração cabe esse jaleco azul claro que a instituição pede que eu use. Nem gosto dele, mas agora ele é simbólico.

    No bolso do meu coração cabem os post-its que há 17 dias estão grudados no espelho do guardarroupa e que ainda não tenho coragem de tirar. Cabe no bolso do meu coração a caldeirada de peixe com pirão que meu tio fazia na panela de barro; cabe o caótico banco de trás do carro dele, sempre cheio de livros e papéis; cabe aquele jeitão silencioso que sempre se preocupou comigo e que quando falava era cirúrgico.

    No dia do funeral só atendi duas pacientes à noite. Atendi porque precisava. Psicólogo precisa ter um coração com bolso para guardar a própria dor enquanto ajuda com a dor alheia. Amo essa profissão e cada alma que senta no sofá de frente para mim. Guardo meus pacientes junto ao meu coração, mas dentro do bolso dele, no momento, só cabe meu luto por um tio sem igual. 🦋

    Postagem publicada originalmente no Instagram em 03 de maio de 2023.

  • Fomos criados para ter contato com toda a criação de Deus e com as criações humanas – que a Ele também pertencem – como cidades, por exemplo. Estas sempre foram importantes na história da humanidade. Notemos que a trajetória humana começou em um perfeito jardim e, ao fim, se estabelecerá em uma perfeita cidade.

    Porém, se cercar de concreto, prédios, asfalto e trânsito o tempo inteiro, apesar de necessário, pode ser altamente adoecedor. Nosso sistema imunológico precisa de ar puro, de contato com a terra e com as árvores, de mais comida descascada e menos desempacotada; nossa saúde mental precisa da quietude e dos sons da natureza de vez em quando.

    Não tenho quintal com plantas e vista de altaneiras montanhas. Não tenho em casa grama fresquinha para pisar, jardim florido para cheirar florezinhas, praia para mergulhar no mar, tampouco revoadas de borboletas ou árvores que me façam sombra. Mas fazemos o que podemos com os recursos que temos.

    Foto: arquivo pessoal.

    Por enquanto, vou me contentando em apreciar a beleza e as cores da natureza misturadas às cores da cidade. Por enquanto, através das grades de uma janela, eu faço contato visual com o céu de fogo pintado pelo ocaso. Por enquanto as cores lindas da natureza ainda são apreciadas assim, quase como de uma prisão. É o que eu tenho por enquanto. E tudo é por enquanto. 🦋

  • Vídeo quase improvisado, publicado em 15 de abril de 2020, para relatar sobre o pré e o pós-cirúrgico da endometriose profunda.

  • https://m.youtube.com/watch?v=Agq7aK91zuI&t=139s

    Após um período sem gravar vídeos, decidi retomar as postagens no Youtube. Espero poder contribuir de alguma forma e se alguém se sentir ajudado, ficarei muito feliz. Quem quiser pode me seguir no Instagram: @fabimelo.psi.

    Vídeo gravado em 14 de março de 2022.

  • Starry night, Vincent Van Gogh (reprodução).

    Atrasei quase de propósito. Tenho déficit de atenção e poderia deixar a data passar batida naturalmente e não dizer nada. Mas há alguns anos eu “esqueço” no dia quase porque quero. Me condicionei a não falar tanto nisso e com o tempo acostumei.

    Ontem foi aniversário do Vincent e eu não congratulei no dia. É por causa dele que se comemora em 30 de março o Dia Mundial do Transtorno Afetivo Bipolar. Se fosse apenas para dar parabéns ao Vincent, seria no dia; mas o transtorno fica me esperando para soprar velinhas e comer bolo também. Ele que espere até o dia seguinte.

    No passado ele era o ventríloquo e eu a boneca, ele comandava, falava e fazia por mim. Tenho vinte anos de tratamento, quinze deles com diagnóstico fechado. Sim, eu fui agraciada com a bênção de um diagnóstico bem feito, com segurança e responsabilidade, em tempo curto. Em se tratando de TAB, cinco anos não é um período de tempo normal para diagnosticar. Foi bênção.

    Apesar de ter outro diagnóstico igualmente sofrido – transtorno da personalidade borderline – o TAB me causou mais estragos em mais tempo. Hoje, pela graça e misericórdia de Deus, que me conduziu pelo vale da dor, do tratamento e da autorregulação, posso dizer que o TAB está sempre aqui com o seu bolo de aniversário, me oferecendo, mas eu não como mais. Minha mente ignora para mostrar que ele não manda mais em mim.

    E, como esse texto é mais para informação do que qualquer outra coisa, estando até aquém da minha capacidade criativa, acho interessante finalizar com uma curiosa oração (já publicada aqui neste blog) e dizer que sou eu que tenho o transtorno, não é ele que me tem.

    Oração do bipolar (por Andreza Schlischting)

    “Senhor, eu pedi equilíbrio e me deste Carbolitium, eu pedi ânimo e me enviaste Fluoxetina, eu pedi paciência e recebi um Anti-Psicótico, eu pedi calma e me viciei em Rivotril. Eu pedi alguém para me ouvir e encontrei um psiquiatra (por 50 minutos semanais). Eu pedi para nunca estar só; realmente, esses efeitos colaterais estão sempre comigo. Eu pedi uma motivação para seguir adiante e recebi a imensa conta para pagar todas as dádivas acima. Mestre, como é bom ter tão pouco a pedir com tanto a enlouquecer”.
    🦋

  • Minha avó costurou a vida inteira e parou por conta das doenças adquiridas com o tempo. Ela não costuma mais cozinhar, mas nunca esquecerei das tardes na cozinha com ela fazendo bolos, biscoitos e mujangué. Minha mãe sabe costurar, bordar, fazer pintura em tecidos e cozinhar bem.

    Minha irmã customiza tudo com tecidos, desenha, pinta telas, produz sabonetes, costura, lida com giz de cera, cultiva plantas de comer e de enfeitar, cozinha comidas doces e salgadas muito bem, trabalha com madeira, recicla, reaproveita e só falta dar nó em pingo d’água. Nasci numa família de mulheres que parecem ter frequentado algum tipo de gineceu; as próprias mulheres de Provérbios 31. Seus talentos e suas artes são muito úteis.

    E eu? Me deixe na cozinha com ingredientes e um livro de receitas e eu farei comida ruim. Cozinhar não é meu hobby. Me dê material para fazer sabonetes, mas chame o SAMU, pois a intoxicação é certa. Saboaria não é meu hobby. Me traga material para trabalhos em madeira, tela ou tecido e terminarei com um dedo a menos, a mão furada e tinta da cabeça aos pés. Costura, pintura e marcenaria não são meus hobbies.

    Achei que jamais teria um hobby manual e, sabendo da utilidade e da importância disso para a saúde mental, me conformei em considerar como hobby a escrita à mão, mas ela exige tempo e inspiração que nem sempre tenho. Tempos atrás, ajudando minha irmã em trabalhos com papéis que precisavam ser dobrados e colados, ela me pediu para fazer os vincos, pois me atrapalhei com todo o resto. “Fabíola, tu só sabe fazer vinco em papel”, disse ela. Concordei. Meus vincos no papel ficaram perfeitos. Aquele foi o “momento eureka”. Eu só sei dobrar papel! Finalmente achei um hobby essencialmente manual. É possível meditar e desestressar dobrando papéis.

    Origami é uma arte efêmera que talvez não surta efeito prático para o bom andamento de uma casa, talvez não seja útil. Mas quem disse que a vida só se faz de utilidades? A vida precisa de graciosidade, de adorno, de coisas sutis, pequenas e delicadas. A vida, definitivamente, precisa de beleza. Escrever, à mão ou digitando, é uma paixão, mas meu hobby manual agora é fazer dobraduras e vincos em papéis. 🦋

  • Ser mulher dói na carne. Acho que é a primeira vez na vida que expresso essa frase. Costumo dizer que viver dói, e dói mesmo! A condição humana é tão especial quanto sofrida. No entanto, ser fêmea confere um pouco mais de sofrimento físico à existência de um ser humano nessa terra. Isso é sentimento meu e tem a ver com a minha trajetória, meu espírito, minha alma, minha carne. Quantas outras fêmeas caminham na vida sangrando e doendo o corpo e a alma? Quase todas. Eu não estou sozinha.

    Minha situação de adoecimento atual, se arrasta há um bom tempo. É um mal sorrateiro que passou batido aos olhos dos médicos, escondeu-se atrás de outras condições e não foi encontrado em exames de rotina até estar avançado. Não me culpo por não ter encontrado antes, pois sempre me cuidei muito e nunca desprezei nenhuma sensação física ou mental.

    Entretanto, uma coisa que incomoda meu coração é que, se não fosse a normalização do sofrimento feminino eu não estaria sentindo a condição de fêmea me esmagar como uma prensa. Eu sempre senti, mas nunca houve acolhimento adequado. Por quê? Simplesmente porque a dor da fêmea é tida como normal. Algumas mazelas do corpo feminino surgem e se desenvolvem livremente, pois não são consideradas anormais.

    Nos tornamos mocinhas escutando mulheres mais velhas nos orientando a fazer cara de paisagem enquanto sofremos, pois “é normal mulher sentir dor” e, segundo elas, é só tomar o remedinho, deitar com as pernas elevadas que daqui a pouco passa e com o tempo acostuma. Esse costume não se torna realidade na vida de algumas, mas, como o sofrimento é normal, então está tudo certo e “algumas mulheres é que são fracas pra dor”.

    O que seria ser forte ou fraca para a dor, visto que não há unidade de medida? O que há é choro, gritos, gemidos, desmaios e ais. Os médicos usam escalas (EVA, EVN), classificações como “de 0 a 10” para entender a intensidade da dor de um paciente: zero é dor nenhuma e dez é dor intensa. Sinto que essas formas não são fiéis, pois qualia não se afere. Em se tratando das minhas dores da carne (no plural, pois sou fibromiálgica diagnosticada também) eu fico com o entendimento filosófico de sensação subjetiva. Quando o assunto é a endometriose, minha resposta ao “de 0 a 10” sempre passou muito do limite da régua.

    Perdi as contas das ocasiões em que, me desfazendo em dores, hemorragia e lágrimas me peguei culpando a mãe dos viventes. Ah, Eva! O que fizeste? A mordida naquela fruta dói em todas as mulheres até hoje. Pobre Eva! A primeira a sentir a dor de ser fêmea, a primeira a ouvir a pena que ressoa até agora nas entranhas femininas: “Multiplicarei sobremodo os sofrimentos da tua gravidez” (Gênesis 3:16). Sim, todas essas dores vividas se referem ao castigo proferido: dores da gravidez. Ovulação, atividade hormonal específica, formação de endométrio, ciclos, sangue, tudo está incluído no processo de procriação.

    E quando, por razões diversas, a tal procriação não acontece, qual deve ser a utilidade de todo esse processo? Os anos vão passando, as ovulações se sucedendo, a saúde se desgastando, a disposição mental minguando e Deus vai mostrando Sua perfeita vontade às fêmeas que não irão parir.

    Esses tempos vi uma transsexual, em entrevista a um programa de TV, afirmando estar em busca de um médico que lhe faça um transplante de útero para que possa engravidar. A impossibilidade é tão estratosférica e a ideia é tão dantesca que indica claramente o adoecimento mental da referida pessoa. Ela não nasceu biologicamente fêmea, nasceu sem útero, mas sonha ter um para tentar sentir uma completude que nunca vai chegar, pois sua falta, aparentemente, é de outra natureza.

    O assunto me atravessou porque enquanto ela, com suas mais de 70 cirurgias plásticas, procura alguém que considere interessante a sua ideia estapafúrdia, eu aguardo longe de casa a iminente cirurgia que poderá extirpar de mim o órgão que melhor caracteriza uma fêmea. A equipe médica faz recomendações, mas a decisão é minha. E que agonia tem sido! Não tenho nem onde chorar em paz sozinha.

    Nunca perdi de vista que o transtorno bipolar não me permitiria a maternidade e também já não sinto por ela nenhum desejo. Este existiu um dia, mas foi minguando com o passar dos anos até não sobrar nem a ideia de um maternar a partir do meu próprio ventre; é certo que nem mesmo para a adoção eu teria saúde e estrutura familiar e financeira. Convivo bem com a impossibilidade de ser mãe, apesar do receio de uma velhice sem alguém jovem e saudável que me acolha. Mas filhos são gerados para garantir cuidado na velhice? Penso que não.

    Deus tem sua forma de trabalhar no coração de cada filha. No meu Ele deixou o amor, o carinho e a compaixão por todas as crianças, as de perto e as de longe, mas tirou qualquer anseio pela maternidade. Minha angústia não é pela possibilidade de ficar sem útero e não poder gerar uma vida, mas simplesmente pela possibilidade de ficar sem útero. Apesar de gerar tanto sofrimento, para mim, esse órgão tem valor simbólico.

    Removendo os anexos inutilizados e as lesões espalhadas pelos outros órgãos, a dor vai reduzir ou sumir, mas a doença é sistêmica e crônica, com ou sem útero eu sempre a terei. Posso pedir que as cirurgiãs o tirem, para eu não mais sangrar e para reduzir meu incômodo, ou posso pedir que o mantenham, permanecendo eu muito vigilante com meu autocuidado. Em meio às dúvidas, o desejo do meu coração é que Aquele que criou o corpo de todas as fêmeas me mostre o que Ele já escolheu para Sua glória.

    Que meu espírito compreenda o ensino do Pai, que minha alma seja confortada e adquira sabedoria, que meu corpo O louve mesmo sofrendo, que minhas dores, de alguma forma, O anunciem e que cada decisão minha mostre que aqui há uma mulher que crê. Que em meio ao tumulto dessa vida o Senhor me permita tocar a orla de Suas vestes.

    (Cf. Mateus 9:20-22; Marcos 5:25-34; Lucas 8:43-48).

    🦋

  • Luto não tem fases! O que existe é uma variedade de teorias sobre o luto, sendo a das Cinco Fases apenas mais uma que não se sustenta na vida real. Inclusive, sua aceitação cega e sem critérios pode se tornar danosa ao indivíduo que sofre uma perda. A teoria das Cinco Fases do Luto foi forjada por Elisabeth Kübler-Ross, médica suíça que estudou pacientes terminais e deu à luz o famoso Sobre a morte e o morrer, livro que trata, dentre outras coisas, daquilo que foi nomeado como as cinco fases do luto.

    O modelo Kübler-Ross se referia, inicialmente, aos pacientes que estavam morrendo e não aos seus entes queridos. As fases descritas pela médica foram indevidamente atribuídas aos enlutados. A teoria se popularizou e tem sido a mais bem aceita, infelizmente. É preciso sair do conforto das cinco fases, que têm se tornado contraproducentes, visto que, se cada pessoa vivencia o próprio luto, único e quase inarticulável, não necessariamente apresentará as tais fases.

    O enlutado pode apresentar a qualquer momento as características de depressão, raiva, barganha etc. Isto, no entanto, não simboliza o vivenciar de fases; experimentar esses sentimentos é a vivência específica daquele indivíduo, é uma experiência extremamente pessoal e única. Por ser uma experiência emocional e profundamente subjetiva, o luto não deve ser sistematizado ou qualificado em tipos – luto interdito, complicado, patológico etc. – ou como um fenômeno composto por uma lista de sentimentos mais ou menos comuns a todas as pessoas. Não deve ser estabelecido um tempo de sofrimento ideal, que se possa medir em dias, semanas ou meses, com prazo para acabar ou para começar a ser considerado doença.

    Cada um vive o processo de enlutamento a seu modo, segundo sua cultura, sua religião, sua história de vida, a situação em que se deu a perda, o grau de intimidade com o ente amado que se foi, a estrutura cognitiva, o perfil de personalidade dentre outros aspectos.

    Em uma época em que tanto se fala em abraçar a diversidade e a subjetividade humana, tentar encaixar o fenômeno do luto em modelos estabelecidos, com direito a datas, prescrições de fármacos, rótulos e exigências sociais é negar a riqueza e a profundidade das emoções. Determinar fases ao enlutado, antes de tudo, é negar ao ser humano o direito de vivenciar a complexidade de sua própria natureza e de sua existência. Abracemos, pois, a diversidade do sentir!

    Foto: arquivo pessoal.

    🦋

  • Foto: arquivo pessoal.

    A dor é aquele ente que chega avisando que algo vai mal. Às vezes ela sussurra, às vezes ela fala, às vezes ela levanta a voz e grita. “Entenda, procure, encontre e resolva!” Inúmeras mensagens para além desta são possíveis e cada uma corresponde a seu próprio mal.

    Foi com a doença da mente que aprendi a escutar a dor. Ela berrou até ficar sem voz. Berrou até que eu compreendesse. Compreendi e ela me retribuiu com um período de silêncio, entrecortado por pequenos bodejos vez ou outra, para que eu soubesse que ela estava mais silente, mas presente. Afinal, a doença, apesar de apaziguada, nunca foi embora.

    A dor reduziu sua frequência de fala, baixou o volume e eu quase parei de escutar. Então veio a doença “das carnes”. A fibromialgia vinha chegando e a dor veio me avisar – aqui faço distinção entre a dor e a doença. A poliartralgia fez a voz da dor se amplificar. Depois a endometriose surgiu e aqui está a dor tagarelando novamente.

    Ela tem sido a visita indesejada que aprendi a pegar pela mão, convidar para sentar no sofá e perguntar o que ela quer. Mesmo contrariada, eu hoje deixo que ela se expresse, lhe ofereço uma escuta qualificada, reflexiva. Permito que ela esgote sua fala, seus gritos, pela carne ou pela mente. Mas já não demoro tanto para decifrar o que ela quer dizer.

    A dor é a amizade inimiga. É a voz desagradável que me alerta sobre o meu mal e para o meu bem. É um mal, por enquanto, necessário. É aquela que me faz sofrer para que eu seja consciente de adoecimentos diversos, de dentro e de fora. Ela sabe que eu procuro, acho e tento resolver, mas ela sempre está por aqui. Ainda há mal a ser encontrado e sempre haverá.

    Não adianta ordenar que a dor emudeça. Não tenho esse poder. Me resta escutá-la e sentir com ela, sentada frente a frente, na sala de estar do Criador, sob Seu olhar atento. É o único lugar onde eu consigo silenciar e compreender a mensagem; e é o único lugar possível para o perfeito acolhimento da minha dor, de toda a dor.
    🦋

    Publicado originalmente no perfil de Instagram @fabimelo.psi em 10 de novembro de 2021.